no solto salto da semente que semeia antes da seara /
sei onde teu ser de pé plantado/
está agarrado ao solo por raízes /
arraigado na terra que é a deusa das divas /
a única natureza que conheço aos punhados na mão /
ou quando cavo o solo com unhas e apetrechos agrícolas /
na minha vida fictícia de Alberto Caeiro tocando o carro de boi /
Conheço teu ser em qualquer tempo e lugar /
porque ele está formado do pó do tempo e do solo /
do pó do tempo que fixa o solo levantado em ti /
como um anjo vegetal que não caiu ao solo /
como sói aos mortos /
e porque tu és um anjo vegetal /
como sou um anjo animal /
mas para que teu anjo continue com o pó em pé /
em pé e em pé de laranjeira em pé /
a água te batisa /
e até faz a ressurreição do anjo caído /
não somente nos cemitérios com suas cruzes e urzes trançadas ao modo do musgo /
com lápides apagadas de letras e escritas com hera e lodo /
mas também na poeira viandante do ar /
nas águas do riacho para amar até cair no mar /
pois a água é o profeta João da natureza /
que todo ano volta do deserto ao Jordão /
Mississippi Missuri Missouri /
Amazonas Araguaia Nilo /
Nilo do crocodilo do Nilo /
seráfico rio São Francisco /
Amarelo Negro Verde e outras cores se as há /
e todas as torrentes possantes ou às águas humildes /
descalças nos lagos como uma carmelita Santa Terezinha do Menino Jesus /
Essas águas em curso /
à jusante ou à montante /
são o profeta João Batista /
sem poesia textual, mas realidade terrena /
terra que toca a água /
e juntas nesse amplexo casam a vida /
- a vida que se divorcia do ser /
logo que água e a terra não mais se enlacem /
( sei como morre o ser para mim /
no meu intimismo de conhecimento que me dá a poesia e filosofia /
que é o segundo movimento da inteligência /
sendo a poesia o primeiro movimento /
porém não sei como morrem os vegetais e os animais /
nem sei como morrerei /
porque esse saber não está ao alcance da poesia /
e portanto também não na minha esfera de consciência inteligente /
mas somente da minha consciência limitada ao que sei do ser /
que está dentro de mim e metade no mundo /
e que tento aplicar á metade que matematicamente não conheço /
embora possa extrair dela leis com Newton e outros legisladores e filósofos naturais /
Na realidade Newton era um poeta natural /
que pisou a terras da natureza pela inteligência da filosofia natural /
que é o mais puro domínio matemático e lógico da poesia maior /
sempre o próximo pé que a poesia pisa a caminho /
de um saber sem fim ) /
Conheço teu ser porque estás em ser dentro de mim /
na inteligência que capta e pensa o mundo no âmbito do ser dado /
Sei da metade algébrica do teu ser /
porque está dentro do meu cérebro /
arquitetado em símbolo em minha mente /
e a outra metade matemática /
está entre as coisas das quais conheço menos que o ser que fiz de laranjeira /
ao pé da laranjeira e no pé da laranjeira com o pé plantado na terra /
como um anjo com asas nas folhas que balouçam ao vento /
Contudo estás na natureza /
que é uma imensa deusa que não conheço senão de nome /
e por algumas leis aritméticas de Kleper e Newton /
espiralando em binômios e cálculos integrais /
mas não o tanto que te conheço ao pé de teu pé plantado /
sempre voando por anjos verdes /
Laranjeira laranjeira laranjeira /
flor de laranjeira flor de laranjeira flor /
de cor alva que se arraiga na barra da alba durante todo o dia /
e ainda até depois que a noite treva de negro retinto /
o espelho da escuridão /
pintado pelos sete diabos que não querem ver sua carantonha no espelho /
Laranjeira em flor de laranjeira /
não sei nada da coisa que és na natureza /
que está em ti e em mim /
dentro e fora de mim e de ti /
Laranjeira da laranja deliciosa e doce /
quando juntarei ser e coisa /
Se meu cérebro está construído para separá-los ?! /
nas seus desenhos geométricos /
sua lógica algébrica /
seus símbolos cobertos pela língua /
outros símbolos dentro da geometria ou da matemática /
junte todas essas linguagens poéticas de símbolos e signos /
numa língua da poesia /
da qual até os anjos do senhor serão analfabetos /
mas que permitirá aos homens atingirem o ápice da inteligência /
e usufruírem a vida que é o mesmo que inteligência e amor /
e não estes vocábulos separados /
que assim apartados nada dizem nem fazem /
senão dramas ridículos e comédias grotescas /
GEOMETRIA DESCRITIVA - GEOMETRIA DESCRITIVA
GEOMETRIA PROJETIVA - GEOMETRIA PROJETIVA
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